De 24/11 a 23/12/2015 a mostra “Um Verão em Marianowo” estará em cartaz na Galeria Mezanino.
Ali Mauricio e eu mostraremos uma parte do que produzimos durante a Residência International Visual Art Workshop em Marianowo, Polônia.
A abertura será nessa próxima terça 24, das 16h às 22h.
A exposição fica em cartaz até 23/12.
Galeria Mezanino fica à r. Cunha Gago 208, pinheiros, São Paulo.
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Aqui o texto que eu escrevi sobre Mauricio (revisado pela Ana Luísa Gonçalves):


Um verão em Marianowo com Mauricio Parra
O que move Mauricio Parra a pintar a mesma árvore tantas vezes? Quais desafios e perguntas se renovam cada vez que ele se propõe a esse embate?
Não é a mesma árvore, não é qualquer árvore e não é só a árvore. Aliás, acho que para esse artista, a atitude repetida de pintar nem passa por essa palavra — “árvore” —, porque seu interesse é o mesmo, independente de ser árvore ou qualquer outra coisa, pessoa ou lugar: refazer-se constantemente nessa ação. Tampouco acho que isso seja um discurso ou um tratado sobre pintura, cheio de conceitualizações. Quando o observo, o vejo simplesmente pintando, porque o foco está na pintura, que não tem nada de magnífico ou extraordinário. Mauricio pinta diariamente porque é seu ofício, porque se vê comprometido com isso. A poesia que ele faz está na reverência da composição com as cores, na humildade e na coragem de pintar silenciosamente e sempre.
Para ele, participar de uma residência é poder estar imerso nesse comprometimento sem se preocupar com os resultados e manter-se muito mais conectado aos detalhes da jornada revelados nessa mudança de contexto — um sol que se põe às 22h30, tijolos e paredes que remetem a tempos antigos e a tempos de guerra, cerveja densa e pouco gelada, amigos que não falam português — onde Mauricio não se sente confortável, mas se propõe a aprender mais sobre pintura, não porque seja um novato, mas porque pintar é novo para ele a todo momento, ainda mais ali na Polônia!
Gosto de lembrar dos cinzas que ele usava, dos ocres e também de quando falávamos sobre a beleza do suporte, porque ele estava encantado com o linho e as telas que deram base para essas pinturas. Gostava de vê-lo nas pausas contemplativas para o cigarro, enquanto o sol das 17h ainda estava quente, diante dessa árvore que o forçava a se posicionar de costas para o monastério, talvez erguido ao mesmo tempo em que ali brotava o carvalho, sem saber que quatrocentos anos depois seria retratado algumas vezes nesse conjunto de pinturas aqui exibidos. Gostava de tomar café aguado com ele e pisar na grama quente do verão de Marianowo enquanto os verdes iam aparecendo na tela, ou quando o cinza recortava esse verde. E agora já não sei mais se o que lembro veio de sua paleta ou se estava mesmo ali. Mas isso pouco importa porque, Mauricio, minha viagem é você.
Por Danielle Noronha


Aqui o texto que Mauricio escreveu sobre mim:


Um verão em Marianowo com Danielle Noronha
No último mês de julho e início de agosto estive junto da artista Danielle Noronha participando de uma residência em Marianowo, uma pequena cidade da Polônia, próxima do mar Báltico.
Participar de uma residência significa, acima de tudo, viver uma experiência. A oportunidade de experimentar um local diferente do habitual, com outras condições de trabalho, outra luz, outros cheiros e outros meios. Tudo isso pode e deve modificar todo e qualquer projeto que exista posteriormente na cabeça do artista. Acompanhar esse processo no trabalho do outro é sempre algo muito interessante de se ver.
Apesar do verão, nos primeiros dias em Marianowo as temperaturas eram para nós de inverno. Isso nos manteve um pouco mais dentro do atelier, que ficava no sótão do monastério – um lugar cheio de vigas de madeira com mais de 500 anos, teias de aranha, um ou outro morcego e algumas janelas e claraboias que lavavam tudo de uma luz linda. Nesses dias frios pude acompanhar bem de perto o projeto que nascia dos papéis e pincéis da Dani, que trouxe de fora do monastério algumas pedras que amontoava sobre sua mesa e observava para pintar.
Com o aumento da temperatura e a chegada do sol era possível observar da janela do ateliê a artista esticando seus papéis (agora bem maiores) no gramado do jardim em frente ao monastério. Lá se fez seu ateliê, na paisagem, descalça na grama como quem busca absorver tudo o que pudesse entender do local. Os gestos outrora contidos pelo limite físico da mesa agora podiam correr livres e amplos pelo gramado. E como alguém que coloca uma mesa na rua, rapidamente o “atelier” da Dani estava sempre recebendo visitas – até porque ela é assim.
Dos grandes gestos, que muitas vezes nasciam como testes de cor em retalhos de papel, foram nascendo os pequenos formatos errantes que também virariam trabalhos. Ao final da residência, como alguém que viveu plenamente essa experiência, a artista assumiu seu atelier a céu aberto como espaço expositivo e o gramado verde foi tomado por pequenos fragmentos de cor costurados cuidadosamente como um tapete. Os pequenos muros do monastério abrigaram alguns de seus trabalhos maiores, transformando o ambiente do jardim em uma instalação e convidando a todos a sentirem um pouco do calor do sol polonês (e muito do nosso calor brasileiro).
Para Danielle – Minha viagem é você.
Mauricio Parra

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