O silêncio e a paisagem são os grandes tesouros da residência artística no Mosteiro Zen Morro da Vargem. Ali naquele mirante da estação cultural dá para perceber que, apesar de estarmos no mesmo lugar, cada instante é diferente – o céu é o rio que passa por cima da ponte de nossas cabeças e, por baixo dessa ponte, o artista se percebe em constante transformação. A oportunidade de estar imersa no mosteiro zen vai além das palavras, é uma oportunidade de conhecimento através da prática de forma imersiva e bastante concentrada. A natureza e a convivência com a vida monástica foram para mim a maior inspiração para dar mais consistência e alegria para a prática artística e a busca pelo autoconhecimento.

Durante os 14 dias que lá estive, ao lado de meu companheiro e artista Mauricio Parra, elegi como foco a prática da aquarela feita a partir da observação direta da paisagem, seja da vista do deck da estação cultural bem como pelos jardins do mosteiro. A pintura de paisagem en plein air, desenvolvidas ao longo de vários dias foram ditadas pela incerteza, pois a cena não era estática – a luz se modificava e alterava não só o que se via da natureza, mas também as cores do próprio trabalho – a cada dia, no mesmo lugar, havia uma cena diferente. Diante da proposição de se pintar a paisagem de observação e estar inserido nessa paisagem, o resultado é o impasse da tentativa inatingível e sem sucesso de capturar e percorrer todos os morros, todas as árvores e sombras. Essa contradição – registrar ao longo de muito tempo vários momentos diferentes – talvez seja o meu maior interesse na prática artística, pois ela é infinita justamente por não ter solução.